segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

onde é que se desliga?

ter demasiados dados para inserir num dado intervalo de tempo e fazê-lo a partir de casa, tem algumas regalias… como não ter que me levantar de madrugada para chegar ao posto de trabalho, poder trocar os olhos em filas de números minúsculos até o sol estar suficientemente quente para dar uma corrida, ou poder perder uns instantes a olhar para a televisão enquanto se bebe um cafezinho não expresso aquecido no microondas.

e quando se olha para a televisão, excluindo os momentos de entorpecimento cerebral resultantes do estupidamente lento decorrer das novelas, corre-se o risco de aprender qualquer coisa, especialmente quando, dos quatro canais disponíveis, se foca a atenção na (passo a publicidade) 2:.

hoje estava a dar um programa, julgo que diário, chamado tudo em família, no qual se debatia o parto humanizado. ora uma pessoa como eu, que quase petrifica de pânico à palavra parto, mas cuja fisiologia já relembra que o relógio biológico está realmente a dar horas, senta-se confortavelmente a absorver a informação para quando chegar o dia de vos presentear com uns sobrinhos… não se esqueçam de ir esperando sentados, que vida biólogo de férias forçadas é o que se sabe. pormenores.

pensava eu que, depois de ter assistido (duas vezes…) a um parto num documentário sobre o desenvolvimento fetal no supracitado canal televisivo (e ter quase chorado de medo nas duas), depois de ter partilhado os meus receios de mulher com outra, etc. etc., estaria já preparada para assimilar a informação com menos sangue a fugir-me da ponta dos dedinhos. bem, e a verdade é que durante o debate fui aprendendo umas coisinhas que conseguiram superar a reacção visceral a esse momento do ciclo de vida de uma fêmea. tanto, que nem me impressionou minimamente o facto de dizerem que a epidural, facilitando a tarefa da mãe, poderia ter algumas contra-indicações no bebé. em poucas palavras, o parto humanizado defende o bem-estar e protagonismo da mãe durante o nascimento, promovendo a presença de um acompanhante, que a mulher se mexa durante o processo, que reaja consoante o instinto lho indique, que escolha a posição do nascimento e que… la pièce de résistance… tenha voto na matéria na questão da episiotomia – vulgo, incisão cirúrgica no períneo com o objectivo de aumentar a abertura vaginal durante o parto, perineotomia é a incisão do períneo e episiotomia refere-se à incisão dos pudendos. com os anos, episiotomia tornou-se sinónimo de perineotomia.

pronto, tudo estragado. não na altura, que entretanto mudei de posto da sala para frente do pc, mas quando perguntei ao santo google mais coisinhas sobre o parto humanizado e me debrucei sobre esta última temática na forma de um pdf com origem na ordem dos médicos. não demorou duas páginas em oito antes de me darem uns calores insuportáveis até ficar só de camisa ao sabor dos 15 ou 16 graus que devem estar por aqui e começar a ver tudo turvo, com a cabeça a querer arremeter-se direitinha ao chão, numa espantosa quebra de tensão e quase devolução do almoço e café como a que, há uns meses, me valeu três semanas de perguntas acerca da criança que estaria para vir das minhas coleguinhas de hidroginástica fronteirense. estou em crer que mais umas linhas e realmente caía para o lado o.O…

em laia de conclusão e para que vocês me relembrem, ou uma carga de porrada, quando o discernimento mental se tiver escavacado nas libertações de oxitocina, que a menos que não haja realmente outra hipótese:

- não quero partos marcados para dois dias antes do sr. doutor ir de férias – filho meu há-de nascer quando estiver preparado;

- não quero cesarianas;

- não quero (aposto que esta deve ser a constatação que mais depressa vai à vida) analgésicos;

- não quero, de forma nenhuma, fórceps, ventosas ou episiotomias!;

- não quero ser obrigada a estar deitada de costas durante todo o processo;

- quero ter o(s) meu(s) filho(s) nos braços assim que nascerem;

- quero ter ou o pai do respectivo ou a minha mãe ou uma amiga (é daquelas coisas que acho que só saberei na altura) comigo durante todo o trabalho de parto.

e queria muito, muito conseguir apreender a informação que procuro, tanto pela curiosidade como pela noção de que há que vencer o medo, sem me dar uma coisinha má a cada tentativa…

by the way, dói tanto porque o parto humano é o que apresenta a relação céfalo-pélvica mais estreita da natureza.



sai um pastelinho de bacalhau...

10 comentários:

Inês disse...

Pois... já dizia um dos nossos queridos Profs da FCUL de quem eu, agora, não me lembro o nome, que os bebés humanos são abortos de 9 meses. A única razão porque nascemos tão indefesos é que se lá ficassemos dentro até sermos tão independentes como os restantes primatas ou mamíferos, a cabeça já não passava pelo buraquinho... Seria como querer "enfiar o Rossio na Rua da Betesga", digamos... Daí a, por vezes, necessidade da "episiotomia"...

DISCLAIMER - E agora, grão_de_pó, vai lá buscar um copo com açúcar, antes de leres a parte a seguir...

O problema de não quereres levar com a incisãozita pode ser que em vez de ser o médico a cortar é o teu rebento a "arrebentar-te" toda, como a minha irmã fez à minha mãezinha. Sim, pode rasgar, mesmo...

grão de pó disse...

sim, já li isso. mas também já li que esse procedimento é feito vezes a mais para as que é realmente necessário.

e nas minhas condições, está um se não for realmente necessário ;)

(fogo, acho que ainda tenho a cabeça zonza desta tarde :S)

raites disse...

Tu andas com tempo livre a mais!
Arranja lá 2 ou 3 putos (saiam eles por onde sairem) para te chatearem o juizo, e vais que a ervilha cessa actividade.

grão de pó disse...

estava a espera que te descosesses...

*lalala*

paulo disse...

olhós relógios biológicos a dar horas!!!!!!!!!!!!
baratinhos, baratinhos!!!!!!!!!!!

;)

Ana (Guida) Santos disse...

Eu também vi esse programa, e gostaria que os meus filhos nascessem da forma como descreveste... se for capaz de dispensar a epidural...
Opa, vais ver que não custa nada, e que vão escorregar que nem uma faca quente em manteiga...
(Lembra-me disto quando eu ficar grávida... coisa que espero que aconteça nos proximos 5 anos)

Prometam-me só uma coisa: quando nos tornarmos mães, vamos tentar falar de outras coisas que não sejam só os nossos filhos...

grão de pó disse...

claro, vamos compreender que eles estão milhas à nossa frente na ausência do existir e optamos por não referi-los, já que nos estragam a reputação...

paulo disse...

essa da "ausência do existir" parece quase uma corrente filosófica. já me sinto intelectual e tudo só depois de escrever isto...

"a ausência do existir ou a vã glória do canalhismo"

"a ausência do existir no século XXI: problemas e oportunidades que advêm da globalização eminente"

e por aí adiante... (alguém que me dê um tiro, ó fáxavô!!)

Ana Elias disse...

Grão, relaxa.
Se queres a minha opinião, e isto pode parecer muito cruel para quem ainda não teve filhos: sim, é verdade que parir dói que se farta, mas também é verdade que com o barulho das luzes, a sensação de surrealismo e as coisas a acontecerem sem que as possas controlar, mais ou menos como num orgasmo, não vais ter capacidade de pensar em nada de muito lógico, nem politicamente correcto, e muito menos tomar decisões na altura. O meu filho nasceu com fórceps, na hora em que lhe deu na gana, sem epidural com episiotomia (o que me pareceu a opção certa), e a única coisa que fiz no parto que posso considerar que foi da minha exclusiva vontade, e instinto (humanizado ou não, não sei,)foi gritar histericamnete. No minuto seguinte de o ver cá fora, não só não me lembrava da dor, como me sentia uma verdadeira heroina e quero mais filhos, ainda que sofra a triplicar, só para reviver a sensação.

E, isto é um dado importante, tal como tu, até ficar grávida tinha pavooooor do parto.

grão de pó disse...

/me engole em seco e esboça um sorriso... mas pouco, que esteve a comer e deve ter restos de tosta nos permeios :]